terça-feira, 25 de junho de 2013

Cenas da janela do ônibus


Quando eu era pequena, imaginava muitas coisas. Me perguntava qual era a religião correta, pensava se tinha alguém no mundo fazendo exatamente a mesma coisa que eu no momento, jurava que tinha ido ao casamento de meus pais e que fiquei escondida debaixo da mesa o tempo inteiro. Jurava de pés juntos.
Mas uma coisa eu pensava e me intrigava com isso: como as pessoas viviam nos países em guerra em meio a tantas armas e explosões?

Era 2002. Estourava a Guerra do Iraque. Eu tinha meus recém completos 7 anos.
Tentava imaginar as crianças andando em meio aos soldados armados, perdendo amigos e familiares. Devia ser bem difícil mesmo.

O ano é 2013. Eu estava fazendo o meu caminho cotidiano para a Universidade. Dois ônibus, cruzando cidades e até um pequeno mar! Chego ao Rio de Janeiro.
Eu sei, violência existe em todo lugar. E no Rio não é diferente de nenhuma grande cidade. Eu sempre passo pelo mesmo lugar, eu já vi coisas tão diferentes, mas também já vi as mesmas coisas. Já vi policial correndo atrás de adolescente que tinha feito roubo, já vi acidentes de trânsito, já vi uma multidão tentando ir trabalhar em dia de greve de ônibus, já vi dezenas de pessoas completamente prisioneiras do crack. Eu sempre vejo muitas coisas, mas hoje algumas cenas me chamaram atenção.
Me chamaram, essencialmente, porque lembrei dos meus pensamentos de criança.

Ao chegar numa conhecida Avenida, cujo nome é o de nossa Pátria Amada, vi muitos carros de polícia. Vi até um agente que vistoriava a mala de um carro, enquanto os passageiros do mesmo esperavam aflitos. Mas essa não era a questão.

Eu vi soldados, da Força Nacional. Todos armados com fuzil. Parados em fila, outros aguardando nos carros. Mas ainda não foi isso que me fez pensar.

O que me fez pensar foi lembrar a minha inquietação infantil. Eu vi centenas de pessoas cruzando o caminho com aqueles homens. Eu vi feiras, barraquinhas, mercados, postos de gasolina que compunham o cenário. Eu via pessoas que saíam de suas casas correndo e talvez nem os percebessem ali. Mas ainda não foi isso que me chamou atenção.

Eu vi uma criança. De mãos dadas com a mãe, uniformizada, com rabo-de-cavalo, mochilinha, tênis preto. Naquele momento aquela criança me fez lembrar de mim mesma. E sim, ela devia ter a mesma idade que eu no tempo da Guerra. Eu fiquei imaginando o que se passava na cabeça dela naquele momento. Será que ela teve medo (como eu tinha da polícia quando pequena)? Será que se sentiu angustiada? Será que se sentiu como as crianças dos países em guerra?

Eu não sei e não tinha como perguntar. Vi tudo aquilo da janela de um ônibus.


Porém essa pergunta não saiu da minha cabeça. Eu não sei como aquela criança se sentia, mas uma coisa posso afirmar:

Nós vivemos em guerra, mas eu ainda não sei bem como me sinto.


* Entre os dias 24 e 25 de Junho, houve confronto entre policiais e criminosos na Maré que resultou em 10 mortes. O texto foi publicado no dia 26.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

da tarde estranha


Há em mim uma vontade de parar e ficar olhando por horas pro nada pra saber talvez o que é realmente importante.
Nesta tarde nublada, de um vento estonteante, de uma chuva fina, um ambiente provocante, faço isso.
Me pego a pensar se o caminho é esse mesmo que eu tenho que trilhar.
A droga da emoção se mistura com a raiva da razão que chega arrazoando com meu simples raciocínio.
Espero ao final de tudo, pelo menos, meu coração não esteja cansado, como o soldado que acaba de voltar da batalha, amuado, achacado.
Ou, na pior das hipóteses: anulado.